Diário de SM: Para o Dia dos Professores, categoria quer os seus direitos respeitados

Rebeca Kroll/Diário de Santa Maria

O Dia dos Professores é comemorado em todo Brasil neste sábado, 15 de outubro. A data foi escolhida em alusão ao dia em que Dom Pedro I promulgou um Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no país, em 1827. No entanto, foi somente em 1947, 120 anos depois, que ocorreu a primeira homenagem e comemoração. Desde então, anualmente, o dia celebra esses importantes profissionais da educação.

Santa Maria possui 4.987 professores na Rede Básica de Educação, destes mais de três mil atuam na rede pública. Esses docentes dedicam suas vidas ao compartilhamento do conhecimento, mas muitas vezes não são valorizados. Para a professora da Rede Estadual de Ensino, Glacir de Almeida, 48 anos, o reconhecimento deveria ser maior, tendo em vista que muitas vezes o profissional precisa assumir outras funções.

– Além da parte pedagógica, acabamos por exercer outras profissões. Muitas vezes precisamos assumir o papel de pais, psicólogos ou até mesmo médicos para conseguir atender os nossos alunos da melhor forma. Tudo que podemos falar sobre essa data é aquilo que já falamos o ano inteiro. A nossa profissão precisa ser valorizada e respeitada. A educação é algo extremamente importante, pois ela é a base que fomenta as nossas vidas – comenta Glacir.

Desafios da profissão

Desde 2008 os professores da rede pública têm assegurado o direito a um período da jornada de trabalho destinado para atividades extraclasse. A Lei do Piso Salarial Profissional Nacional do Magistério Público da Educação Básica, número 11.738, determina em seu artigo 2º a hora-atividade.

Ela garante que dois terços da carga horária semanal deve ser reservada para as atividades em aula e um terço para questões como planejamento, correções de prova e reuniões. Em maio de 2020 o Supremo Tribunal Federal considerou a norma como constitucional. No entanto, em Santa Maria ela ainda não é respeitada e muitos profissionais precisam levar o trabalho para casa.

Em um expediente de 20 horas semanais, o profissional deve ter seis horas para o cumprimento da hora-atividade. No entanto, na rede estadual, por exemplo, os profissionais possuem apenas quatro horas para realizar esses serviços. Glacir comenta que o tempo não é suficiente e que por isso está sempre trabalhando.

– A minha vida é em função da escola. Eu estou o tempo inteiro planejando as aulas, chego em casa de noite e preciso organizar as coisas para o dia seguinte. Se eu quero fazer algo diferente para a aula eu preciso acordar às 6h para conseguir ter tempo de organizar – relata a professora.

Situação no município

Nayara Rocha, 29, é professora da Rede Municipal de Educação Infantil e também vive essa realidade. A docente relata que a sua escola faz um rodízio para tentar assegurar às seis horas pelo menos uma vez a cada 15 dias. Para ela o problema vem da falta de profissionais e afeta a qualidade de ensino.

– A escola quer proporcionar a hora-atividade, mas não tem professores para cobrir o nosso horário durante esse período e não é possível planejar duas semanas de aula em seis horas. Dessa forma acabamos fazendo isso de noite e nos finais de semana – diz Nayara.

O Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria (Sinprosm) vem articulando desde 2018 com a Secretaria de Educação (Smed), o Conselho Municipal de Educação e representantes de direções escolares um projeto para que o direito seja implementado. Em julho deste ano o plano pedagógico foi apresentado para o Executivo, mas desde então o sindicato não obteve mais informações sobre o andamento da proposta.

– Explicamos para o prefeito a importância da hora-atividade que muita gente desconhece. Eles ficaram de analisar o impacto financeiro e nos chamar de novo para uma reunião para começar a implementar a proposta. Mas até agora não tivemos retorno sobre isso – afirma Juliana Moreira, 46, coordenadora de Organização e Patrimônio do Sinprosm.

Segundo Juliana apenas os professores dos anos finais têm acesso ao direito. Em setembro a Smed encaminhou um ofício a pedido do sindicato e afirmou que esta é a principal pauta da secretaria. No texto o órgão relatou que “os setores responsáveis pela gestão pedagógica, financeira e de pessoas das secretarias de Educação, de Finanças e de Administração e Gestão de Pessoas encontram-se em trabalho conjunto a fim de analisar possibilidades viáveis de diferentes propostas”.

– Os professores estão apreensivos, é um assunto bastante caro para a categoria. Agora, depois da pandemia, a carga de trabalho parece que triplicou e estamos sobrecarregados. A gente não tem o direito respeitado, mas não deixamos de fazer o nosso trabalho.

O que diz a prefeitura

Conforme a Smed, a importância da hora-atividade é inquestionável e o município está organizando propostas viáveis para cada nível de ensino e já está em processo de ajustes nos níveis em que o direito já é cumprido. Também vislumbram oportunidades para melhorias e avanços, por ocasião do Plano de Lotação de Professores (PLP).

Segundo o órgão, o projeto ainda não foi implantado devido a dificuldades de ordem financeira, de contratação de mais profissionais devido ao limite prudencial e, no caso da educação infantil, da necessidade de se ter uma proposta para a totalidade das escolas. Nos demais níveis o processo não é inicial, já está em andamento, precisando de ajustes.

– As propostas assim construídas são exequíveis e adequadas do ponto de vista pedagógico, no que concordam todos os segmentos envolvidos, mas carecem de operacionalização do ponto de vista financeiro e da gestão de pessoas. Razão pela qual, o município, organiza propostas viáveis para sua execução. Tomando sempre como referência os princípios da cautela e da responsabilidade.