Maria é um dom, uma certa magia. De Maria espera-se o gerar e o parir. De Maria espera-se o cuidado e a sensibilidade. De Maria espera-se a independência e o empoderamento. E ela, a Maria, às vezes ri quando deve chorar e nem sabe se vive ou apenas aguenta.

Mas Maria precisa ter força, precisa ter garra, precisa ter gana sempre. Sem a força e a garra, ela não encara a jornada dupla ou tripla imposta pelo trabalho, pela casa e pela maternidade. Sem a gana, ela não supera nem enfrenta os preconceitos e o machismo escancarados ou velados nas relações de trabalho, familiares e sociais. Maria precisa disso porque sabe seu lugar social, conhece a luta de tantas outras Marias para conquistá-lo e não quer abrir mão dele.

Maria também precisa ter manha, precisa ter graça, precisa ter sonho sempre. Sem a manha e a graça, é impossível alimentar aquele sonho de igualdade que ainda se mantém vivo. Maria precisa disso por ela e por todas as outras Marias que já deixaram de ter fé na vida. Pelas Marias que, na necessidade de garantir sozinhas o sustento dos filhos, abraçam qualquer oportunidade de um trocado sem nem lembrar qual era o sonho que tinham. Pelas Marias que, sufocadas por relações abusivas, não lembram mais que um dia nutriram sonhos. Pelas Marias que, de tanto atenderem expectativas dos outros, nem sequer se reconhecem no espelho. Pelas Marias que, crescendo na miséria, não têm sequer o espelho.

Maria precisa ter força, garra, gana, manha, graça, sonho por todas as Marias que nem a vida têm mais. Pelas Marias violentadas e mortas nas ruas, nos parques, nos carros, por quem as vê como objeto de seu prazer. Pelas Marias vítimas de feminicídio, mortas violentamente dentro de suas casas, de seus carros, por aqueles que as consideram propriedade, que não aceitam que elas tenham aquela estranha mania de ter fé na vida.

Maria carrega a marca de tantas outras Marias…

Siga firme, Maria! As futuras Marias dependem de ti.